40 intérpretes dançam e cantam no “Humanário” de Rui Horta

“Humanário” é o nome da peça que, este sábado é o foco das atenções do GUIdance. Um espectáculo comunitário, interpretado por 40 participantes da região. Coreografada por Rui Horta e dirigida musicalmente por Tiago Simães, é uma peça “pouco convencional” que conjuga dança e canto. Sobe ao palco do Centro Cultural Vila Flor pelas 21h30.
A RUM acompanhou o ensaio a auscultar as preparações do “Humanário”. Pouco passavam das 20h de segunda-feira e o aquecimento vocal e corporal deu o arranque em mais um ensaio do “mix improvável” que compõe o elenco do “Humanário”. É assim que Rui Horta, o coreógrafo, define o conjunto de pessoas, entre estudantes e trabalhadores, que fazem parte da peça que estreia no GUIdance. A última semana é feita de ensaios diários, numa corrida contra o tempo, numa peça tem sido preparada aos fins-de-semana.
O espectáculo comunitário deriva de um “open-call”. “Havia uma denominador comum. Quando eu e o Tiago começamos a preparar a peça, lançamos o repto: se sabes cantar ou se não tens medo do palco, aparece. Tinha este lado muito aberto e, naturalmente, apareceu gente com formação e outros com pouca. O elo comum é o corpo, que está lá sempre, e a voz. É uma peça coreografada e sonora”, explicou aos jornalistas Rui Horta, antes do ensaio começar.
Entre som e dança, esta não é uma peça convencional. O músico vimaranense Tiago Simães dirigiu o espectáculo que aproveitou os talentos de cada um dos participantes, de forma a “celebrar a individualidade de cada um, jogar, criar, construir com o que cada um tem que oferecer. Está a ser uma experiência extremamente enriquecedora”, explicou.
Questionado se uma peça tão diferente do habitual poderá desiludir quem muito espera de um nome como Rui Horta, o coreógrafo explicou a diferença entre coreografia e dança. “Nas minhas peças eu danço muito, mas também há, muitas vez, elementos teatrais. De mim estão à espera de tudo. É uma peça coreografada. Uma coisa é dança, que é movimento. Já a coreografia é movimento organizado. A voz também é movimento e faz parte do corpo”, comparou.
Em palco estarão 40 intérpretes, que vêm de toda a região. Uma cumplicidade que se criou também pela ligação de Rui Horta a Guimarães, contou o programador Rui Torrinha. “O Rui [Horta] tem uma relação umbilical com Guimarães. Apresentou aqui todas as peças desde que regressou a Portugal e, por isso, existe uma cumplicidade extrema do Rui com a cidade”, lembrou. Para o programador, à 8ª edição este “era o momento de o festival assumir o risco e testar de que forma Guimarães se está a tornar uma cidade de criação”.
Rui Horta reafirmou a sua ligação à cidade, lembrando que “uma peça como esta só se faz bem quando se tem alguma cumplicidade com a estrutura, com a cidade, com o espaço e eu entusiasmei-me com isto”, disse.
Mas afinal, o que é tão especial no “Humanário”? É uma peça “com muita resistência”
“Gosto das pessoas que tem outras profissões – a quem eu não gosto de chamar de amadores porque têm um elevado nível de profissionalismo – saem de casa e, depois de um dia de trabalho, deixam os filhos, maridos, mulheres, e vão tocar com uma banda ou com um coro. Isto é brutal”, elogiou o coreógrafo. Para Rui Horta, “cantar em conjunto porque se quer tem uma força enorme”.
O processo de construção da peça “é muito importante, de vinculação aos outros, que vai no sentido contrário da própria fragmentação da sociedade. É mais fácil esticar as pernas, pôr uma mantinha e alugar um filme ou ver um programa. Está tudo em casa se não quisermos resistir. Este espetáculo tem um elemento de resistência”, sublinhou.
No mesmo festival, sobem ao palco trabalhos de companhias como a Wayne McGregor ou Peeping Tom. Uma soma que resulta num desafio para todos. “Esse é o lado especial do festival: convocar coreógrafos do calibre do Rui Horta, colocar desafios em cima da mesa e a própria região ser desafiada. Para mim, como programador do festival, é um auto desafio: como encontrar processos de correr riscos, desafios e convocar a cidade de outra forma que não seja apenas ser plateia”, admitiu Rui Torrinha.
Áudio:
A jornalista Mafalda Oliveira acompanhou o ensaio de “Humanário”:
