Óscar, o atleta de 78 anos que vai correr na S. Silvestre

Ser um atleta de eleição começou muito cedo na vida de Óscar Loureiro, sem nunca ter desejado tal coisa. Foi uma vida ligada ao desporto. Aos 78 anos corre as estradas de Portugal, seja em trails, meias e grandes maratonas. “Vontade e saúde” é a receita para continuar a correr. É natural do Porto, mas a Braga vem sempre que pode. Tem boas memórias da cidade dos arcebispos, todas elas associadas ao atletismo. Em Braga, já competiu em várias corridas e agora prepara-se para fazer a estreia na S. Silvestre. “Tenho ido muito para Braga para participar em corridas. A S. Silvestre parece-me que nunca fiz, mas no Porto tenho feito muitas”. Dez quilómetros? “Vou fazê-los, a não ser que me dê alguma coisa, mas espero que não”. Até porque a saúde está óptima. Não vá o diabo tecê-las, fez exames ao sangue em Outubro. “Está tudo em ordem. Ainda bem”.

Deixou o futebol na década de 70. Jogou no clube da zona de S.Victor. “Eu bem sei que vocês têm um S. Victor em Braga, mas refiro-me ao Victor do Porto”, recorda, entre risos, os tempos de glória enquanto “jogador da bola”. O “bichinho do desporto” não o larga. A mudança dos campos pelado para as estradas de asfalto aconteceu quando atingiu os 40 anos de idade. Não foi uma mudança fácil. A carreira de futebolista nunca lhe permitiu viver apenas do futebol, mas tinha prazer sempre que calçava as chuteiras. Foi um caminho feito de poucas glórias, de muita vontade e dinamismo. “Para você perceber que o futebol não deu em nada, agora até sou mecânico de automóveis”. Foram anos de ligação ao desporto rei, uma longa carreira que na hora do adeus não mereceu aplausos emocionados do público. “Era um clube pequeno, sem grande visibilidade”.

Óscar Loureiro no final da 8ª corrida solidária em Aveiro

Há 38 anos, não se via a correr em meias-maratonas. Em maratonas? “Então isso nem se fala. Nunca pensei”. Agora até faz trails de 13 quilómetros, mas é diferente, não gosta muito. Tudo começou por influência de um amigo que se dedicou ao atletismo e que o convidou para ir. “Custou-me muito, muito, muito a começar, mas depois fui ganhando amor por aquilo”. Eu não tinha vontade disso. É preciso muito sacrifício”. Mal sabia que viria a correr Portugal de norte a sul. Ao estrangeiro só foi a Santiago de Compostela, e “já chega”.

Faça chuva ou faça sol todos os dias treina cerca de uma hora, “mas às vezes até passa”. Só assim é que conseguiu, aos 55 anos, bater um record na Nazaré. Voltou aos 60 anos para tirar o título “a um moço que é de Lisboa chamado Vicente”. Não corre para ser melhor do que os outros, mas para superar os seus limites que têm sido ultrapassados, prova após prova. Vencer só lhe dá vontade para continuar a correr. Os troféus de pouco importam, até porque no Gerês, numa prova de 13 quilómetros, foi o segundo veterano mais rápido. “Eles até têm lá um prémio para me dar. No dia vim embora e deixei-o lá ficar”. Foi o único que ganhou uma meia-maratona no Pombal ao Armando Aldegalega -atleta do Sporting CP a partir da década de 50- “que é um grande profissional”. A última prova em que participou foi na meia-maratona da SportZone, no Porto. Deixou-se de maratonas até porque não gosta de desistir e aos 78 anos “era provável que acontecesse”.

O gosto pelo atletismo foi passado aos seis filhos, a uns mais do que outros. “Eles dão muitos elogios. Incentivam-me muito”. O mais velho já corria, mas tudo começou por influência de Óscar. O outro a seguir, “claro, meteu-se os namoricos e esqueceu as corridas”. A filha mais nova e a minha neta fazem caminhadas. “Eles normalmente vão a tudo em que eu participo. Estão lá para dar apoio que também é preciso”.

Com orgulho diz que é “muito conhecido na zona”. Para uns é o Óscar dos tempos do futebol, para outros o homem que ainda corre e ainda há os que o conheçem por Óscar, o mecânico. Antes de fechar a conversa, lembra: “Não lhe disse, esqueci-me. Também fui campeão de corta-mato e campeão do norte em estrada”.

Paulo Costa
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