“Os partidos moderados devem reflectir”, avisa José Palmeira

Os partidos moderados devem reflectir. A opinião é do docente de Ciência Política e investigador da UMinho, José Palmeira.
Numa reacção à vitória do candidato da extrema direita no Brasil, Jair Bolsonaro, o especialista em relações internacionais alerta que este é mais um sinal que “o Mundo está a caminhar para uma situação em que os extremistas estão a ganhar terreno”. Para José Palmeira, “se foi possível acontecer o que aconteceu nos EUA, o mesmo poderia acontecer em qualquer lado”. Lembrando que na Europa já é possível assistir a avanços da extrema direita, na América Latina, com um passado ligado a ditaduras “seria um espaço onde isso seria possível”.
“A eleição de Jair Bolsonaro é uma mensagem de alerta para o Mundo”
“Sempre houve extremismos, mas sempre foram minuritários. Aquilo que estamos a assistir é que esses extremismos estão neste momento a ganhar eleições e acho que sobretudo quem deve reflectir são os partidos moderados”, começa por responder o docente quando questionado sobre a reacção que o Mundo deve ter face a este resultado eleitoral.
José Palmeira disse ainda que os partidos moderados e mais do centro “devem reflectir sobre o que leva a esta situação”. Referindo que “é muito cómodo dizer que é fruto das redes sociais e da evolução tecnológica”, o especialista em relações internacionais considera que os próprios partidos do centro, quer na Europa quer no resto do Mundo devem fazer uma reflexão sobre as causas que estão a conduzir a isto, alertando que, se por exemplo, os extremismos ocuparem amanhã uma posição predominante no Parlamento Europeu pode ser a própria União Europeia a ficar em causa”.
Recordando ainda a posição de Donald Trump nos EUA que está a criar “novas tensões com a Rússia, com a China e com o Irão”, mas também o que se está a passar no Médio Oriente com a Arábia Saudita, José Palmeira avisa que “o Mundo está a ficar cada vez mais numa situação de conflitualidade latente”, desconhecendo-se “até que ponto isto poderá colocar em causa o próprio equilíbrio do sistema internacional tal como o conhecemos até há uns anos atrás”.
Recorde-se que no Brasil, o Partido dos Trabalhadores disputava, tradicionalmente, o poder com um candidato do centro, mas este ano preferiu um candidato da extrema direita. “Criou-se a situação para isso, a situação económica, a corrupção e a criminalidade”, lembra.
Bolsonaro vai ter que fazer cedências
José Palmeira questiona até que ponto a democracia brasileira vai ser penalizada com a eleição de um candidato da extrema direita. O docente lembra que o sistema político brasileiro é presidencialista, há separação de poderes entre o presidente e o Congresso. “Sabemos que o congresso tem duas câmaras, a dos deputados que tem trinta partidos representados e o Senado que tem 25. Significa que o futuro presidente do Brasil vai ter que contar com um Parlamento extremamente pulverizado, vai ter que procurar apoio numa solução maioritária, o que significa que vai ter que fazer cedências. Vamos ver quais serão as suas alianças, sendo certo que tal como nos EUA, o Presidente não faz aquilo que quer, mas aquilo que pode”, analisa.
Este domingo à noite, no discurso de vitória, Jair Bolsonaro garantiu que será “um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”. O docente de Ciência Política da UMinho reconhece que se trata de um contraste face à campanha eleitoral e que agora é preciso esperar para ver se Bolsonaro será “o presidente da campanha eleitoral ou o presidente da noite da vitória nas eleições presidenciais”.
Áudio:
José Palmeira, docente Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade do Minho
