Especialista sugere intervenção “low cost” no S. Geraldo

Luís Soares Carneiro, arquitecto especialista na recuperação de teatros, considera que deve ser feita uma intervenção “low cost” no S. Geraldo de Braga. Para isso sugere uma moratória para que se ganhe tempo e se possa aplicar no espaço um modelo baseado no Salão Recreativo que, em tempos, lá existiu.
Aos microfones da RUM, o especialista afirma que este espaço não deve ser demolido e que uma intervenção pode ser feita com baixos custos. “Deve-se encontrar para o espaço um propósito e com um objectivo que seja uma intervenção low cost. Deve-se encontrar no S. Geraldo um lugar onde, com o mínimo de condições, se possam fazer actividades variadas e espontâneas, onde as bandas de música possam fazer pequenos concertos, se possa fazer uma exposição, uma mini-feira do livro, tudo isto com infra-estruturas mínimas”, apontou o arquitecto.
Com o seu doutoramento sobre “Arquitectura-Teatros”, Luis Soares Carneiro trabalha em dupla com Carlos Guimarães e desenvolvem, no Porto, estudos e projectos de arquitectura e desenho urbano, incidindo o seu olhar nos museus, teatros, bibliotecas e outros edifícios institucionais. São ambos professores na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Sobre o S. Geraldo, Luis Soares Carneiro sugeriu “reparar telhados, pintar homogeneamente e dotar o espaço do mínimo para que possa ser utilizado”, referindo que manter um cinema com 800 lugares “não faz qualquer sentido”.
Esta intervenção “low cost” que defende, iria, a seu ver, potenciar outras valências culturais e de vivência do espaço. “Se tirarmos as cadeiras e tivermos uma plateia plana, teremos uma grande sala que pode acolher os mais diversos públicos com um custo muito reduzido. Umas dezenas de milhares de euros chegam para isto e não estamos a falar de uma recuperação de milhões. Seria algo completamente diferente”, sublinhou o arquitecto.
Mas para que isso seja possível, Luis Soares Carneiro sugere que um grupo de cidadãos avance com uma moratória à Arquidiocese (proprietária do imóvel): “Pode-se colocar um pedido de adiamento das decisões que estão pendentes e dar uma oportunidade de uso ao espaço, antes de se avançar para outras vias”, avançou o arquitecto.
“Esta possibilidade de um uso mais popular do espaço e, ao mesmo tempo, fazer-se uma intervenção low cost parece-me ser uma solução muito interessante para o futuro do S. Geraldo”, concretizou.
Ricardo Rio admite que para já nada pode ser feito
Entretanto Ricardo Rio, em declarações à RUM, disse que uma candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura em 2027 “não altera em nada” a questão do S. Geraldo. O presidente do município valorizou, aquando do anúncio, a criação de equipamentos culturais na cidade, mas voltou a lembrar que, no que respeita ao S. Geraldo, o edifício é posse da Arquidiocese e nada pode ser feito de diferente neste momento.
“Há um proprietário privado que tem que ter uma palavra a dizer nessa matéria e a Câmara nada poderá fazer sem a concordância. Tenho a possibilidade que é comprar, alugar ou usufruir de algo que me seja cedido, mas em todas estas hipóteses, tem que ser de acordo com a vontade do proprietário”, lembrou o edil bracarense que explicou que a candidatura “não é algo de hoje, é algo que está a ser pensado e discutido há algum tempo e, obviamente, a questão S. Geraldo foi equacionada”.
Ainda assim, frisou o autarca, “a questão não muda de figura apenas porque há a vontade de Braga ser Capital Europeia da Cultura. Essa questão depende sempre do proprietário”.
E face a esta dependência, Ricardo Rio lembrou que “não há abertura do proprietário, pelo menos até ao momento, para negociar ou encontrar outra solução com valores que sejam comportáveis para o município, ou seja, não há margem para fazer algo diferente neste momento”.
