Alzheimer. O que é? O que podemos fazer?

No dia Mundial da Pessoa com Alzheimer, a RUM conversou com dois especialistas do Hospital de Braga e da Escola de Medicina da Universidade do Minho. Em Portugal estima-se que existam 160 mil pessoas com esta demência. A doença atinge 50 a 70% das pessoas com demência.

O nome desta doença deve-se a Alois Alzheimer, médico alemão que em 1907, descreveu pela primeira vez a doença.

Mas afinal, o que é doença de Alzheimer? Álvaro Machado, neurologista no Hospital de Braga responde: “é a perda da memória episódica, da nossa capacidade de gravar novos eventos e de marcá-los temporalmente”, começa por explicar. O neurologista exemplifica: “Sabermos que ontem fomos jantar à nossa mãe, sabermos quem é que esteve lá em casa no fim-de-semana”. “Falhas cognitivas, de memória, que se vão acumulando ao longo do tempo e às quais se vão somando outras disfunções de outros domínios cognitivos, as pessoas deixam de reconhecer pessoas que vêem poucas vezes, depois pessoas que já vêem mais frequentemente, deixam de reconhecer tão bem o ambiente e ficam mais perdidas, com um olhar vago à procura da saída”. 

Sinais que começam a “alarmar os familiares”, diz o profissional do Hospital de Braga, que vão evoluindo e que chegam à incapacidade de autonomia da pessoa. “Isto vai evoluindo até que há um ponto em que a interferência com a funcionalidade é inevitável e a pessoa deixa de conseguir funcionar, individual e socialmente, de forma adequada. Nesse momento podemos dizer que existe doença”, especifica.

Os factores protectores para, pelo menos, retardar a doença

Regra geral, a doença de Alzheimer mais comum prevalece, sobretudo, a partir dos 65 anos. São vários os factores de risco já identificados pelos profissionais, com destaque para a hipertensão arterial, obesidade ou sedentarismo, numa fase intermédia da vida. Por isso, Álvaro Machado refere que “é tão mais importante o controlo de uma eventual hipertensão arterial, quanto mais cedo ela for detectada e tratada”. São vários os factores protectores para, pelo menos, retardar até à esperança média de vida cerca de 1/3 dos doentes de Alzheimer. A prática de exercício físico, a escolarização, ou o manter uma vida social activa são considerados factores protectores. “Basicamente levar uma vida saudável desde a meia idade”, acrescenta o neurologista.

O que se faz pelo ICVS sobre a doença de Alzheimer

Por todo o mundo, equipas de investigadores procuram a cura para o Alzheimer. A Universidade do Minho também tem uma equipa focada no estudo desta demência. Tiago Gil Oliveira, médico neurorradiologista, docente e investigador do ICVS, esclarece que o maior factor de risco é a idade, mas há também factores genéticos. “Há dois grandes temas em comum que unem a função destes genes. Um é ao nível do metabolismo dos lípidos, o grande componente do nosso cérebro, e o segundo é a nível de genes que afectam o sistema imunológico. Na UMinho o que estamos a fazer é estudar o papel dos lípidos no desenvolvimento da doença de Alzheimer”, sublinhou.

A intenção passa, por isso, por “identificar a doença numa fase o mais precoce possível para também intervir o mais precocemente possível”, disse Tiago Gil Oliveira. “A maior parte das moléculas que foram estudadas, todos os estudos foram negativos, nenhuma molécula se mostrou capaz de parar ou de reverter qualquer tipo de defeito cognitivo de doença até à data”, completou Álvaro Machado. Ainda assim, “os dados são relativamente promissores para aqueles individuos que, apesar de sabermos que têm a doença por marcadores biológicos, ainda não a desenvolveram na sua plenitude”.

O Dia Mundial assinala-se precisamente esta sexta-feira, dia 21 de Setembro, ainda que um pouco por todo o país a data se assinale ao longo de vários dias, sensibilizando a população para esta demência.