Festival de Fotografia e Artes Visuais. Ao encontro dos jovens através da imagem

“Welcome to ‘Encontros da Imagem’, the International Photography and Visual Arts festival”. Através da língua inglesa rapidamente se percebe a dimensão do evento. Muitas pessoas, de várias nacionalidades, estão no pátio exterior do Gnration, em Braga, para a exposição de abertura da 39ª edição dos Encontros da Imagem.
No chão estão algumas imagens religiosas, contrabalançando com dez fotografias expostas em altitude, presas às paredes brancas do espaço – seis de um lado e quatro do outro. “As imagens que estão no chão são de arquivo e as que estão em cima foram criadas por mim”. A explicação é de Inês Fernandes, autora do trabalho.
A exposição de fotografia artística ‘Pneuma’, com a curadoria do espanhol Vitor Nieves, baseou-se em “imagens sobre uma única mulher, santificada pelo povo, que não foi aprovada pela Igreja Católica”. Essa mulher é Maria Adelaide. Existe mesmo um museu dedicado a esta ‘santa’, em Vila Nova de Gaia, de onde é natural Inês, em que “as pessoas, por norma, vão pedir imagens desta santa para que os seus familiares sejam ajudado quando estão a passar por dificuldades”.
E o trabalho da artista de 22 anos é precisamente sobre essas questões, explorando “a transformação da vida e percurso de alguém e na influência que esse alguém tem na vida dos outros, que pode levar a crenças e penitências, que se convertem em esperança“.
De baixo para cima, tal como é retratado na forma como estão colocadas as imagens, Inês pretende “ficcionar a realidade”, através das fotografias que criou, personificando várias situações distintas do quotidiano, como o sofrimento, o desespero, a rutura ou a mudança. Desta forma, procura “tornar este tema, que é tão pesado, numa coisa mais leve”.
A “preocupação” de lançar novos talentos perante o “afastamento” da arte por parte dos portugueses
Pelos quatro cantos do pátio exterior do Gnration ouvem-se diferentes línguas, desde o inglês ao francês, passando, claro, pelo português. No entanto, na hora de contemplar a exposição, o silêncio é o dialeto mais poderoso. Pelo menos é essa a aparência demonstrada por Ilídio Fernandes.
Apesar de ser um confesso curioso pelo mundo da cultura, desta vez tem uma razão mais forte para estar a assistir a uma exposição: é o projecto da filha Inês e logo o primeiro a solo num evento deste calibre. “Ela esforça-se imenso, sofre muito na produção destes trabalhos e vive muito a fotografia”, revela o pai.
Já na perspectiva exclusivamente de observador, sente que essa paixão demonstrada por Inês não é acompanhada pela maior parte da sociedade. “Em relação a nós, portugueses, acho que há uma afastamento da arte porque achamos que é uma coisa supérflua”. E é aqui que entra também o papel deste festival internacional.
“Os Encontros da Imagem têm a preocupação de lançar os novos artistas, quer nacionais, quer internacionais”, refere o director do evento, que, estando a caminhar a passos largos para a terceira década de existência, tem tentado promover a importância da fotografia e das artes visuais junto das pessoas. “What Now?” é o tema deste ano do festival. Segundo Carlos Fontes, remete para “questões do quotidiano que são bastante importantes, como o ambiente, a identidade de género e a política”.
“Quem viaja pelo mundo percebe que fazemos do melhor que há”
A observar o trabalho de Inês, estão muitos artistas e nem todos são fotógrafos. Ana Maria Pintora, tal como o próprio nome indica, tem na pintura uma das suas paixões. Nessa condição, em 2017, expôs nos Encontros da Imagem e, este ano, leva outra das actividades que costuma praticar ao evento: o teatro.
Tendo em conta a experiência que tem de fruição da cultura portuguesa, considera gratificante o trabalho que é feito neste festival e noutros semelhantes, “muitas vezes, com pouco dinheiro”. “Conseguimos realizar actividades culturais de interesse e inovadoras. Quem viaja pelo mundo percebe que fazemos do melhor que há”. A performance de Ana Maria acontece este domingo, às 16 horas, no Museu D. Diogo de Sousa, a propósito do trabalho de fotografia “Quem é Muu?”, de Fátima Carvalho.
É uma das 32 exposições que compõem o programa da 29ª edição dos Encontros da Imagem, que arrancou esta sexta-feira à tarde e prolonga-se até 27 de Outubro. Além disso, nos vários espaços das cidades aderentes – Braga, Guimarães, Barcelos e Porto -, vão decorrer ciclos de cinema, projecções, conferências e serviços educativos.
TBG
