“Batalha dos cliques não ajuda à verdade dos factos”

O Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, esteve esta quinta-feira em Braga a discutir a ética na comunicação do futebol português. O debate, inserido no FUTECOM – iniciativa promovida pela Liga -, juntou figuras ligadas ao jornalismo, à assessoria de imprensa, e contou também com a presença do presidente da Liga, Pedro Proença.
O debate foi iniciado pelo Secretário de Estado, que falou sobre a importância de uma reunião de esforços entre todos os protagonistas do futebol, desde jornalistas a dirigentes, para apaziguar o clima do desporto rei nacional. “O mundo, não só no futebol e no desporto, conheceu muito mais avanços com a cooperação do que com a competição”.
João Paulo Rebelo analisou a aparente descredibilização dos meios de comunicação e culpou as redes sociais. “A batalha que hoje se vive dos cliques e visualizações nas redes sociais não ajuda à verdade dos factos. O direito à liberdade de expressão é algo que nunca podemos pôr em causa mas o direito que o público tem à verdade é equiparável”, comentou.
Já o Presidente da Liga, Pedro Proença, reforçou que o futebol é “hoje uma indústria” e colocou, até, a hipótese futura de o futebol passar a ficar sob a tutela da economia e sair da esfera do desporto. Quanto à guerra estabelecida no futebol entre os vários agentes, o antigo árbitro disse que a “a Liga tem de estar preparada” para “a mudança clara e objectiva do meios de comunicação” e para “a introdução das redes sociais, que hoje permitem hoje comunicar de forma avassaladora”.
É preciso distinguir os papéis de jornalista, comentador e adepto
Joaquim Fidalgo, docente na Universidade do Minho e antigo provedor do leitor no jornal Público, foi outro dos intervenientes do painel e começou logo por dizer que o futebol é um desporto de emoções e que é quase impossível “discutir o futebol de forma calma”. Depois, assinalou que distinguir os papéis de jornalista, comentador e adepto seria um passo determinante para melhorar o futebol português.
“No universo da informação pública de futebol há três tipos de actores quem nem sempre se percebe em que circunstância falam: há os jornalistas, há os analistas e há os adeptos. Os adeptos, hoje em dia, são uma categoria fortíssima, e as obrigações deles, nomeadamente em termos éticos, são diferentes”.
Os directores de comunicação manipulam informação
Vasco Ribeiro, docente na Universidade do Porto e antigo assessor, falou na óptica dos directores de comunicação, que são muitas vezes os visados quando se trata de apontar o dedo à responsabilidade das polémicas no futebol português.
O docente afirmou que “o objectivo de um director de comunicação é passar a melhor imagem do seu clube e do seu líder desportivo – que é quem lhe paga”, acrescentando que, para isso, o profissional “vai, dia e noite, pensar num conjunto de estratégias de persuasão puras e de manipulação de informação, quer de tempo, conteúdo ou forma”.
“A comunicação social, o espaço público e os próprios profissionais têm de perceber que é essa a nossa [a dos assessores] actividade”, defendeu, salvaguardando, no entanto, que “a credibilidade tem de fazer parte de um profissional de comunicação”.
Áudio:
Liga Portugal promoveu um debate sobre a ética no futebol profissional
