Braga. Feirantes sentem-se “enganados”

Permanecem as dúvidas e receios dos feirantes em relação à permanência da Feira Semanal de Braga no sopé do Monte Picoto. A autarquia vai investir quase meio milhão de euros na requalificação daquela área que tem acolhido a feira semanal desde o arranque das obras no antigo Parque de Exposições de Braga (PEB).

Na altura, a Câmara Municipal de Braga (CMB) garantiu que a nova localização seria provisória e que, após a inauguração do agora Fórum Braga, os feirantes regressariam ao parque de estacionamento. Na semana passada, ficou confirmada a permanência no Sopé do Monte Picoto.

O vereador da CDU na Câmara Municipal de Braga, Carlos Almeida, visitou esta terça-feira o local, tendo constatado que os feirantes “continuam com muitos receios, pese embora as promessas de requalificação do espaço”, sobre a qual também “há muitas dúvidas”. Dúvidas que o vereador considera “legítimas”, tendo em conta o período de Inverno e o que os feirantes “passaram nos últimos meses”, tendo em conta as condições do local.

“Este foi um ano perdido”

À RUM, alguns feirantes dizem ter sofrido “uma grande descida” nas vendas desde que a feira se deslocalizou. Carlos Amorim, feirante há cerca de dez anos, diz, aliás, que este “foi um ano perdido”. “Isto é o nosso modo de vida e foi um ano perdido. Perdemos aqui muito dinheiro. São 10h da manhã e ainda não vendi nenhuma peça”, lamenta. Também feirante há cerca de 10 anos, Sandra Fernandes acrescenta que, se puder fazer comparações, “de 100%, as vendas passaram para cerca de 30%”.

O mesmo lamento vem da parte de Fernanda Pereira, feirante há cerca de 20 anos. “Estamos aqui de graça, mas não adianta, porque não vem ninguém à feira. Se todas as câmaras nos fizessem isto, para onde íamos?”.

Carlos Almeida acrescenta que os feirantes dizem-se enganados e que “é legítimo também que o digam”. “É verdade que o Presidente de Câmara sempre disse que os feirantes, apesar das condições do espaço provisório, iam ficar muito agradecidos porque as obras iam trazer belíssimas condições para se instalarem”.

“O senhor presidente, que já sabia, devia ter coragem de dizer aos bracarenses que já tinha a certeza que a feira não ia voltar lá para dentro”, critica Carlos Almeida, à RUM. Sandra Fernandes lamenta que os feirantes tenham sido “muito enganados”. “Eles prometeram uma coisa e estão a fazer outra completamente diferente. Apesar da requalificação, preferia ir para o sítio onde estávamos, até porque tinha melhores condições para os clientes”, disse.

A mesma opinião tem Nazaré Pereira, que, aos 47 anos, não se lembra de ter tido outra profissão. “Fomos enganados. Estou muito revoltada. Querem que desista, mas isto é o nosso ganha-pão. Se todas as Câmaras nos fizessem isto, para onde íamos?” O marido, Henrique Alves, acrescenta que a feira de Arcos de Valdevez, a de Ponte de Lima e a de Barcelos também foram requalificadas e os feirantes regressaram para o mesmo sítio. “Sou bracarense, mas às vezes ser de Braga deixa-me triste por algumas coisas que vejo”, lamentou.

Para o vereador do PCP, “o investimento público foi feito no Fórum também seria para dinamizar a actividade económica, não só aquela que, pelos vistos, é a grande preocupação desta maioria, que estes também são empresários. Se calhar não são empresários tão modernos e empreendedores como a maioria gosta, mas também são empresários e acrescentam movimento a economia local”, frisou.

Visitantes divididos. Autarquia garante que a decisão é definitiva

Do lado de quem visita a feira, dividem-se as opiniões quanto à permanência dos feirantes no sopé do Monte do Picoto. Para Sónia Fernandes, a maneira como Ricardo Rio está a tratar a situação “é uma vergonha”. “Noutras cidades, fazem as obras e continuam a pensar nos feirantes. Ele [Ricardo Rio] só gosta de aparecer nos jornais e nas festas. Os feirantes estavam bem junto ao PEB. Agora porque é feio… feias são as decisões que ele toma”, criticou.

Opinião diferente tem Felicidade Lopes, moradora da zona e cliente habitual da feira. “A feira está bem aqui. Para quem já apanhava chuva no outro local, não se importam. O chão não está bem, mas segundo o jornal, a Câmara vai arranjar isto”.

À RUM, o autarca Ricardo Rio garantiu que todas as condições de funcionamento serão asseguradas depois da requalificação do espaço e que a migração da feira para aquele local é definitiva e “cada cidadão é livre de fazer juízos de valor sobre as decisões da Câmara”.