Em Famalicão, a inovação é feita pelas mãos dos idosos

Do exterior, através de uma janela que o sol encandeia, vê-se, entre sombras, algumas das obras de arte que aqui moram. “Normalmente, nós vamos aos Centros Sociais do concelho para trabalhar com eles. Depois das obras de arte estarem prontas, trazemos para irem ao forno”, revela Olga Pereira, técnica da Fundação Castro Alves (FCA).

Olga Pereira faz parte do grupo de técnicas que, normalmente, vão aos pares até aos centros sociais do concelho. É assim há seis anos. Hoje, o dia foi diferente. Cerca de 12 seniores vieram até à FCA para criar flores e bonecos para, quem sabe, “oferecer aos bisnetos pelo Natal”, deseja, Albina Costa.

O Roteiro da Inovação, levado a cabo pela Câmara Municipal de Famalicão, começa aqui. Aqui, a ver o que os seniores constroem, esteve Paulo Cunha, presidente do município. Entre elogios ao trabalho dos “especialistas”, reforçava a ideia de que os “seniores também podem realizar e inovar”.

Famalicão, inovação, empresas e juventude andam de mãos dadas, mas o Roteiro começa na FCA por razões bem diferentes: “desmentir que a inovação só é feita por empresas e por jovens”. A FCA, para Paulo Cunha, é “muito mais do que um museu de cerâmica. Isto é muito mais do que uma terapia ocupacional para idosos, é realização”.

Olga Pereira ainda é do tempo em que o espaço se chamava Centro de Arte e Cultura Popular de S. Pedro de Bairro, bem lá atrás, em 1979. Estudou aqui e mais tarde acabaria por ficar para passar conhecimentos a quem chegou depois. Acompanhou a evolução da Escola a Fundação Castro Alves em 1991. Todos os dias é uma das responsáveis pela vida activa dos idosos dos 19 concelhos onde a FCA actua. Mais do que actividades, exercita o rosto dos “jovens idosos”, fazendo com que o dia seja levado com um sorriso na cara”.

O mesmo compete a Cláudia Sampaio. Não há dia em que não aprenda alguma coisa com os idosos. Sempre foi apaixonada por arte, em especial por pintura. Estreou-se nas tintas a cores há pouco tempo. Com o Natal muito próximo, idealizou pintar a Sagrada Família em tela de azulejo, que está em fase de acabamento. Terminada a Sagrada Família, segue-se um presépio, pois “a época assim o exige”.

António Sá. O contador de histórias que nem sempre está inspirado

Gosta do que faz, mas “nem sempre há ideias”. Foi toda uma vida “a servir”, até começar a trabalhar numa fábrica em S. Cosme, Famalicão. Aos 87 anos, António pertence ao Centro Social e Paroquial de S. Cosme, “mas só de dia”, porque de noite “nem pensar”.

A arte de bem-fazer com as mãos merece elogios por parte das técnicas da FCA: “Ele faz coisas muito bonitas, mas às vezes um pouco ‘malandrecas’”. O seu dia-a-dia, entre pinturas e barro, faz-se a contar histórias no centro “para quem quiser ouvir”. Normalmente é em forma de rima, que põe logo “toda a gente a rir”.

“Já falo consigo. Deixe-me terminar esta coisa que nem eu sei bem o que é”. Demorou a decifrar o boneco que estava a construir, mas logo o apelidou de “António do passado”. Homenagem a si próprio, aquele António que em tempos andava no meio do campo de chapéu e alguidar na mão. “Repare que este António é um pouco corcunda, assim como eu”.

Texto e fotografia: Paulo Costa

Redação
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