Encontros de Outono. Afinal, para que servem os partidos?

Há mais de 20 anos que os Encontros de Outono, em Famalicão, recua na história para falar do presente. São dois dias de colóquios sobre a égide de Bernardino Machado, “homem que tanto fez por Famalicão e pelo país”. Paulo Cunha refere um homem que partiu em 1944, mas que ainda tem uma história muito presente. Ainda assim, os encontros mantêm-se firmes para falar dos contributos de Bernardino Machado “enquanto político e pedagogo”. Foram mais de duas décadas a ocupar a Casa das Artes de Famalicão. Este ano, o palco mudou. “Mudamos para a sala de conferências. É esta a ‘casa’ da Assembleia Municipal de Famalicão”.
Com os textos dentro dos contextos,” o espaço adequado” encheu para falar de “Partidos e Movimentos Políticos de 1910 a 1940”. Como em todas as edições, Bernardino Machado é o pretexto para a realização dos Encontros de Outono. As datas escolhidas por Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, não foram em vão. Bernardino Machado foi presidente da república, pela primeira vez, em 1915. Acabaria por abandonar o país em 1917 por imposição de Sidónio Pais, na altura líder da junta militar. Voltaria ao cargo em 1925 até ser destituído em 1926 pela revolução militar que levaria à implantação do Estado Novo. O terceiro presidente de Portugal acabaria por falecer em 1944, com 93 anos.
Não viu a revolução de 25 de Abril de 1974. Norberto Cunha quis recordar tudo isso nos Encontros de Outono: o tempo em vida de Bernardino Machado, o pré e pós revolução de 25 de Abril. A ligação ao presente é feita em todas as intervenções. Por resolver ainda estão alguns enigmas do “que é isso de ter, tirar partido”? Reforça: “Mas, afinal, o que é ter um partido político?”. “Como eram e como são os partidos e os movimentos políticos?”. Para Norberto Cunha, não há dúvida que foi a fragmentação da sociedade que levou à criação de partidos. “Tomar partido não é dividir. A sociedade já o faz. Os partidos devem fortalecer a pluralidade, devem corresponder aos interesses da sociedade”. Não são mais do que diferentes mecanismos com os quais as pessoas se identificam e associam, “que dão voz às ideologias de cada um”.
O conflito de interpretações foi o que levou o Museu Bernardino Machado a iniciar os Encontros de Outono. Dois dias, 12 debates para discutir, entre cidadãos, cidadania e ideologias. Fazer jus à preocupação que Bernardino Machado demonstrou com os partidos políticos. Que por esta “preocupação” não se entenda problemas, dúvidas. Até porque Norberto Cunha não veio para falar bem nem mal dos partidos políticos. “Os partidos devem fortalecer a pluralidade. Eles são bem-vindos”.
A não avaliação do coordenador científico do Museu Bernardino Machado, não foi, certamente, condicionada pelo facto de estar lado a lado com o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Paulo Cunha. A importância dos partidos na manutenção da democracia em Portugal destaca-se no discurso do autarca. Manter a democracia “não depende só dos partidos”. Cunha lembra que a sociedade civil está a viver um ciclo menos bom. Rejeita a crítica fácil aos partidos, “até porque quem o faz, está a fazer uma autocrítica”. Tudo isto faz com que acredite que os Encontros de Outono fazem cada vez mais sentido, pois é “um contributo para a sociedade ser mais crítica, mais opinativa”.
Por: Paulo Costa
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“Os Encontros de Outono são uma boa prática”, considera Paulo Cunha
