Especialista alerta para correntes lamacentas em Braga

Em Braga o número de inundações e correntes lamacentas deverá ser superior ao normal quando chegarem as próximas chuvas, tudo por causa do estado dos solos depois do incêndio que queimou mais de mil hectares de floresta. O alerta é do investigador António Bento Gonçalves, do Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território da Universidade do Minho.
Foi um incêndio “rasteiro” e isso significa que “muitas árvores não morreram”, mas o facto de se tratar de um ano com pouca precipitação, a vegetação rasteira (uma protecção natural) não está a ser tão rápida” começa por explicar. “O meu receio é que quando tivermos as chuvas concentradas, mesmo estando os solos particularmente secos, boa parte da água não se vai infiltrar, vai escorrer e vai arrastar parte das cinzas e do solo que está solto e desprotegido e arrastá-lo para jusante, onde temos a cidade de Braga. É fácil de perceber que poderemos ter algumas inundações e algumas correntes lamacente nalguns locais da cidade”, analisou o especialista.
Galiza atira palha para solo queimado para evitar correntes lamacentas e inundações
Bento Gonçalves destaca a reacção imediata da Galiza, ao contrário do nosso país, para evitar os riscos de correntes lamacentas e inundações.
Os vizinhos do norte de Espanha “optaram por de imediato espalhar palha nas vertentes mais declivosas”. Uma intervenção “barata” e que resulta, levada a cabo por voluntários. “Quando chover, a chuva não irá incidir directamente no solo, vai ser amortecida pela palha e vai impedir que a velocidade das águas seja tão rápida e vai permitir uma maior taxa de infiltração”. Desta forma é reduzida drasticamente a possibilidade de inundações e correntes lamacentas.
Portugal e as burocracias
De acordo com o investigador, no nosso país estes procedimentos esbarram nas burocracias. “No nosso caso as intervenções de emergência demoram vários meses. Tem que se abrir uma candidatura, tem que ser avaliada, o dinheiro eventualmente será concedido ou não e só depois se poderão aplicar as medidas ditas de emergência. Provavelmente já após as chuvas e após terem acontecido todos estes problemas”, sustentou.
Entraves que não se ficam por aqui. A falta de cadastro da floresta regressa à discussão. Bento Gonçalves esclarece que “não havendo um cadastro, não se sabe quem são todos os proprietários e se se for intervir em propriedade privada, mesmo estando a fazer bem, os proprietários poderão pôr um processo a quem fizer essa intervenção”.
