Europeias. Candidato do BE quer fim do bairro do Picoto

O número três da lista do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu visitou, esta quarta-feira, o bairro do Picoto, em Braga, onde afirmou que os valores da União Europeia não apontarão nunca para a reabilitação de um gueto.

A requalificação do bairro com o apoio de fundos comunitários é a única solução apontada pelo município de Braga, mas Sérgio Aires avisa que estes bairros só existem “porque a discriminação ainda é uma realidade” presente em Portugal.

O candidato visitou o bairro, ouviu moradores e conheceu as condições de habitabilidade da comunidade cigana que ali vive. No final, e em declarações aos jornalistas locais, o candidato cuja actividade profissional está intimamente ligada ao combate à pobreza e às desigualdades sociais, referiu que estes bairros “só existem porque o problema da discriminação contra as comunidades ciganas ainda não está resolvido”. Sérgio Aires defende que o Parlamento Europeu “pode continuar a insistir” e que a Comissão Europeia “deve fiscalizar” o que se faz com fundos comunitários. “Eu pergunto se isto é convergência, se isto é integração, se isto é coerente com aquilo que é inclusivamente o nome dos programas que financiam estas coisas. Há um espaço da União Europeia para que isto nem sequer exista”, explicou.

“Há sempre confusões com a propriedade dos terrenos quando se quer fugir às responsabilidades”

Numa visita muito recente ao Bairro do Picoto, o presidente da autarquia, Ricardo Rio, anunciou que a única possibilidade para aqueles habitantes é a reabilitação do edificado através do apoio de fundos comunitários. O candidato ouviu as explicações do porta-voz da comunidade sobre a visita recente em que foi explicado que o município iria comprar à Arquidiocese de Braga o terreno onde foi construído o bairro, de forma ilegal, na década de noventa. Ainda assim, a história foi desvalorizada pelo candidato bloquista que nos últimos dias visitou seis bairros, de características semelhantes, em diferentes concelhos.

“São todos iguais, todos guetos, estão todos em sítios que as pessoas entram mas nem têm saída, onde há confusões sempre com a propriedade dos terrenos para que possam fugir às suas responsabilidades. É sempre tudo muito confuso e as autarquias limitam-se muitas das vezes a manter as coisas neste estado que estão a ver”, alertou.

“Reabilitação do Bairro do Picoto, não!”

Já sobre o futuro do Bairro do Picoto, o candidato bloquista é taxativo: “reabilitação, não!”.

Sérgio referiu ainda que “é preciso ouvir as pessoas e perceber o que querem”, dando nota de que os ciganos “não querem viver todos juntos, querem viver em comunidade” com o resto da sociedade. “Nunca ninguém lhes pergunta o que eles querem, o que eles querem é viver como todos nós, são portugueses, querem estar integrados na comunidade. Eles querem viver lá em baixo, em Braga”, atirou.

O candidato bloquista alertou ainda para o crescimento da xenofobia na Europa referindo que Bruxelas não está interessada em requalificar guetos, mas sim em dar melhores condições de vida à etnia cigana.

“Queremos ser realojados e espalhados pela cidade”

O presidente da comissão de moradores, Hugo Salazar, confirma que o interesse das famílias que ali vivem é sair, integrando-se na comunidade e desfazendo mitos que “ainda existem” em Braga, lamenta. “Nós queremos ser realojoados e, se possível, espalhados pela cidade. Nós queremos reintegrar-nos na sociedade e não nos dão essa possibilidade. Espalhados é uma forma de verem a nossa cultura, a nossa expressão. Era uma forma de acabarmos com muitos problemas”, defendeu.

Sérgio Aires visitou hoje o bairro do Picoto acompanhado pelos dois candidatos do partido pelo distrito de Braga e do deputado da Assembleia da República, Pedro Soares, além de outros membros do Bloco de Esquerda no concelho.