“Morreu a escritora mais importante do sec. XXI em Portugal”

António Ferreira, autor do programa Livros com RUM, considera Agustina Bessa-Luís a autora mais importante do século XXI em Portugal. A escritora morreu esta segunda-feira, aos 96 anos, e o especialista em literatura não tem pejo em afirmar que Agustina “é o escritor/a mais importante da segunda metade do sec. XX, e a mais importante do séc. XXI português”.

António Ferreira refere que o epíteto se justifica “por variadíssimas razões”. A começar pela unanimidade entre a crítica literária. “Não é muito frequente um autor provocar quase a unanimidade por parte da crítica, da academia e dos estudiosos”. Quando se fala da literatura moderna portuguesa, refere o especialista, “virá sempre o nome de dona Agustina Bessa-Luís”.

A melhor homenagem a fazer, vaticina António Ferreira, é “ler a obra da escritora” e deixar que cada um “descubra, por si, o valor da grande escritora”. Obra essa que é vasta. Agustina Bessa-Luís deixa um legado na literatura, no teatro, no cinema, na música ou na pintura. 

Na obra romancista, António Ferreira assinala o último livro da autora como o mais importante. “A Ronda da Noite, de 2006, é o livro mais importante da literatura portuguesa no séc. XXI. Mesmo por aí fora, poucos escritores podem aceitar o desafio de desmontar esse romance ao pormenor e equipararem-se a este trabalho”. 

O especialista ressalva o cruzamento de Agustina entre “grandes nomes da cultura ocidental, como Dostoiévsky ou Kierkegaard” e a sua “herança cultural, uma herança rural, de uma certa aristocracia nortenha”, transpondo os dois elementos para “a cultura universal”. A cultura universal da autora natural de Amarante é representada no modo como relaciona a mulher e o homem. 

“O universo feminino da Agustina é dos mais importantes do mundo ocidental. Um olhar de uma mulher sobre as mulheres e os homens: o amor, o ódio, a decadência, a insuportabilidade da vida ou a poesia”.

No dia da morte de Agustina Bessa-Luís, António Ferreira sugere, uma vez mais, a leitura da obra da autora. “Aqueles que não conhecem que aproveitem o dia para conhecer; os que conhecem, devem ler ou reler”.