O que seis youtubers e um gamer podem fazer por Famalicão

Às 14h do primeiro dia do evento, autocarros feitos de alunos das escolas secundárias do concelho estacionavam no Lago Discount, em Famalicão. Chegam para uma espécie de visita de estudo, onde alguns deles estão preparados para darem aulas aos professores sobre como jogar consola. “Para rematar é no círculo, professora”, reitera um aluno, corrigindo o remate defeituoso da docente, depois de esta ter carregado no botão onde se fazem cruzamentos. Estava também reservada uma sessão de talks sobre programação de jogos, momento em que havia espaço para perguntas sobre a construção dos jogos com que grande parte se entretêm.

No mundo encantado dos videojogos que Famalicão foi durante dois dias, milhares marcaram presença num evento único na cidade, e raro no Norte do país. O “Extreme Gaming ’17” é um evento que os gamers há muito ansiavam. A Keep Doing, a Câmara Municipal de Famalicão e um conjunto de marcas de videojogos e de material para gaming tornaram possível a chegada de um festival que normalmente está confinado a Lisboa. O Norte há muito que não tinha um mundo real em paralelo com o virtual, onde streamers, youtubers e gammers pudessem partilhar o mesmo espaço. A startup Keep Doing, representada por Mariana Machado, iniciou o projecto convicta de que no Norte existem muitos jogadores, mas poucos eventos. O objectivo passa por colocar Famalicão no mapa dos videojogos, trabalhando mais este sector.

A tecnologia também tem uma forte presença no evento com a exposição do BMW I8 e os simuladores de corrida que permitem ao utilizador penetrar no mundo virtual. É nessa linha de relação entre os dois mundos que a organização decidiu convidar a campeã mundial de juniores de Kickboxing, na categoria -60 kgs, Sofia Oliveira e o seu treinador, Manuel Gomes “para provarem que não é uma questão de brutalidade, mas sim de defesa. Uma tentativa de desmistificar a ideia de que jogos como o Teken geram violência.

No primeiro dia do evento, cerca de 1500 pessoas marcaram presença. Do staff, entre voluntários e funcionários das empresas parceiras, Alientech e E2tech, serão cerca de 80 as pessoas responsáveis por assegurar que tudo acontece dentro da normalidade prevista. Filas ordeiras faziam-se atrás das consolas onde cada um ia jogando à vez. Entre Xbox, Nintendo e Playstation 4, o espaço dividia-se em 12 ilhas, com direito a experiências de realidade virtual e jogos em movimento. Para o mais recente jogo da EA Sports, o Fifa 18, onde Cristiano Ronaldo é capa, foram dedicados três espaços: dois da Playstation 4 e um da Xbox, onde havia possibilidade para experimentar outros jogos.

Aos 90+6, Matuidi fez de João Mesquita campeão

Depois de desperdiçar algumas oportunidades, a Juventus adianta-se no marcador por intermédio de Chiellini. Vantagem para a formação de Turim na final do Torneio de Fifa 18. João Mesquita foi com a Juventus, enquanto Pedro decidiu escolher o Real Madrid. A aposta na corrida de Cristiano Ronaldo parecia ser a estratégia de Pedro, mas o empate acabou por surgir dos pés de Módric. Tudo empatado no final dos 90’ num jogo impróprio para cardíacos. Já no prolongamento, um golo do francês Matuidi, aos 90+6’, acabaria por fazer de João Mesquita o campeão do torneio, levando para casa o Fifa 18’, que se traduz em taça do torneio.

Mas João só chegou à final depois de ter ultrapassado várias eliminatórias. Uma competição ao jeito da Liga dos Campeões, onde, por vezes, os tomba-gigantes aparecem. Diogo Marques, o “mini-Messi” de apenas oito anos, pediu ao pai para o inscrever no torneio. Foi lá para ver youtubers, mas acabou por participar numa competição onde só estavam graúdos. Chegou aos quarto-de-final depois de vencer dois jogos. Apesar das parecenças com o astro argentino, Diogo é fá de Cristiano Ronaldo. Desde o início do torneio que decidiu jogar com o Real Madrid. Perdeu por 5-1, depois de ter estado empatado nos primeiros 45 minutos. “Estou a jogar mal na segunda parte”, desabafa Mini-Messi. Saiu de cabeça levantada e sob um festival de aplausos dos outros competidores. “Xau, Messi. Jogas muito”, ouvia-se.

Já fora “das quatro linhas”, Diogo fez o que mais de metade dos presentes fizeram: correria desenfreada até ao corredor que dava acesso a um abraço e autógrafos dos youtubers. A meio caminho, todos paravam para ver Zorlak a comentar o torneio de Counter Strike Go. Zorlak é streamer e uma das principais atracções do evento, mas Tiagovski e Rúben “X” fizeram as delícias da juventude. Alguns não acreditavam que, finalmente, estavam a ver as figuras sem ser através dos ecrãs. Entre nervos e excitação, o abraço aos youtubers era tão apertado que transparecia a ideia de que não era real o que estava a acontecer. “Ai, é ele, o Tiagovski”, diziam.

FOX, a lenda viva do CS GO

Com mais de 100 mil seguidores no Facebook, Fox veio a Famalicão para marcar presença no primeiro dia de “Extreme Gaming”. Ficou conhecido por manobrar pistolas na perfeição através de um rato de computador. O melhor jogador português de CS GO representou a team Kick, em Portugal, mas agora representa os “Dignitas”, uma equipa em grande parte formada por dinamarqueses e noruegueses. Só por ser muito bom é que Ricardo Pacheco (Fox), conseguiu sair de Guimarães para viver lá fora, totalmente financiado por uma associação inglesa que aposta em competições de CS GO.

Tudo começou por diversão com os amigos. Todos lhe reconheciam o mérito na hora em que fazia um headshot com uma Maverick. Começou a participar em torneios portugueses, mas rapidamente começaram a chover convites para competições além-fronteiras. Nessa altura, não havia apoio. Eram os jogadores quem suportavam os custos de viagem e alojamento, pois o CS Go “não tinha o impacto que tem hoje”, revela Fox. “Valeu a pena o esforço”, pois permitiu-lhe combater na melhor competição do mundo, a Major, por “quatro ou cinco vezes”. Hoje, tem a sua própria linha de tapetes para ratos e até uma linha de computadores feita pela Nexus.

Na “Extreme Gaming”, assistiu à fase de grupos do torneio de CS GO, mas não teve oportunidade de ficar para ver a grande final entre os Alientech e os YG Sharks. Os jogadores brasileiros que formam a equipa do YG Sharks, juntaram-se no decorrer do ano de 2017 e, apesar de estarem juntos há pouco tempo, têm jogadores que garantem qualidade. É o caso de Renato “Nak” Nakano. Em 2016, foi campeão de Counter Strike. Do outro lado, está Zelin. É, para a crítica de videojogos, um dos melhores jogadores de CS Go a atuar em Portugal. Os Alientech, depois de terem ficado entre os quatro primeiros classificados da Moche LPGO 2016, ficaram classificados para a Lisbon Game de onde saíram com o título de campeões. Como esta competição é limitada a jogadores portugueses, os YG Sharks não puderam participar. Todos estes jogadores têm em comum o facto de viverem inteiramente dos videojogos. Além de receberem um salário, pago pela associação que representam, têm direito a prémios monetários sempre que vencem um torneio.

No “Extreme Gaming”, a final foi discutida pelas duas equipas. A final disputa-se à melhor de três, mas os YG Sharks não precisaram de um terceiro round para levar a taça. Venceram nos dois primeiros mapas -Cache e Coblestone- , mas como se perspectivava uma final renhida, a organização tinha pronto um terceiro e derradeiro mapa, o Train. Entre gritos de vitória e frustração, os membros das duas teams cumprimentaram-se, deixando a promessa de que em breve haverá desforra. 

Por: Paulo Costa

Redação
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