Plataforma Confiança acusa CMB de ter “duas caras”

A Plataforma Salvar a Fábrica Confiança quer o Instituto de Itinerários Culturais do Conselho da Europa a acompanhar o processo de alienação do imóvel. Os membros que compõe a plataforma avisam que pode estar em risco a Via romana XVII que unia Bracara Augusta a Asturica Augusta, uma vez que pode passar por baixo ou muito perto da Fábrica Confiança. O caderno de encargos não prevê o levantamento arqueológico, ainda que o município tenha reiterado que as escavações terão de ser feitas.

Ora, no mês passado, o próprio município de Braga entregou uma candidatura para as Vias Romanas Europeias a Itinerário Cultural Europeu. A Plataforma, pela voz de Luís Tarroso Gomes, avisa que Braga está a ter uma postura na Europa diferente da que pratica internamente. “Não se consegue perceber, é completamente contraditório uma câmara municipal que lá fora quer mostrar que preserva as vias romanas e que tem um interesse muito apurado pela preservação do património da época clássica, e depois aceita vender um edifício que lhe pertence que foi comprado para preservação do património ligada à fábrica, mas também ligado à via XVII”, defende Luís Tarroso Gomes. A Plataforma alerta ainda que este será provavelmente o único troço da Via XVII em espaço público, e que por isso “é facílimo fazer investigação arqueológico e preservá-lo sem causar nenhum embaraço à cidade”, notou.

Na missiva dirigida ao responsável do Conselho da Europa é relembrado o historial de destruição de vestígios romanos desde as décadas de 60 no perímetro urbano de Braga. Daí que seja solicitado que pressione a autarquia de Braga no sentido de cumprir os requisitos de salvaguarda do património histórico. Foi apresentado, a título de exemplo, o caso da Via romana XVII que unia Bracara Augusta a Asturica Augusta. Os arqueólogos – designadamente Francisco Sande Lemos – consideram que existe a forte possibilidade de parte da via XVII, na continuação das ruas de São Victor-o-Velho e do Pulo, passar pelo interior do complexo industrial da Fábrica Confiança pertencente ao Município (ver anexo com planta de localização). 

Se a Confiança for alienada e o privado encontrar restos da via romana XVII o que se faz?

Cláudia Sil, também da Plataforma em defesa da Confiança, avisa que a câmara de Braga já devia ter confirmado se a Via Romana XVII passa ou não por baixo da antiga Fábrica localizada na Rua Nova de Santa Cruz, lembrando que o município teve seis anos para o fazer. “Achamos estranho quando a câmara fez esta candidatura porque “contraria as intenções que foram anunciadas” de alienação de um património quando há estudos que indicam que este património vai além do que seria a fábrica. Por isso, a Plataforma decidiu enviar uma carta à própria candidatura, uma vez que alienar a fábrica “é eliminar a possibilidade de se investigar este património”, explicou.

“O timing é estranho, no mínimo”, defende ainda Cláudia Sil.

Confrontada pela RUM com o facto de o município já ter garantido que as escavações arqueológicas irão constar no regulamento a entregar a quem adquirir o imóvel, Cláudia Sil responde com outra questão: “Se alguém adquirir poderá executar as escavações, e depois? O privado vai encontrar restos de uma via e o que se faz? O privado suspende os trabalhos? Estando lá [a via XVII] pode anular qualquer intervenção privada futura e depois vai haver uma luta jurídica e o problema vai-se agravar mais ainda. São processos que demoram muito tempo”, alertou, sublinhando que a venda por 3.8 milhões de euros poderia, no futuro, resultar até numa indemnização superior da autarquia ao privado que viesse a adquirir a Confiança.

Áudio:

Luís Tarroso Gomes e Cláudia Sil

Elsa Moura
Elsa Moura

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