Protesto no Dia dos Namorados contra violência doméstica

“Basta”. Foi a palavra de ordem no movimento levado a cabo, esta quinta-feira, pela Rede 8 de Março, que tinha como objectivo alertar para os números ligados à violência doméstica e de género. Sabia que, até ao momento, este ano, já foram assassinadas 10 mulheres por este tipo de violência?
O número foi, de resto, uma marca da acção, que decorreu junto ao Tribunal de Braga.
Além da cidade dos arcebispos, a movimento saiu à rua em Porto, Coimbra, Aveiro e Lisboa.
“Quem compactua com quem nos bate também é culpado”, lia-se nos cartazes que os manifestante seguravam.
A data não foi escolhida ao acaso. Bater não é amar. O protesto no Dia dos Namorados pretende chamar a atenção também para a violência no namoro, sendo que uma parte significativa dos jovens não reconhece situações tipificadas como violência.
Marta Calejo, representada da Rede em Braga, explica que “os estudos sobre a violência no namoro revelam que uma parte significativa dos jovens não são capazes de reconhecer situações tipificadas como violência”.
“Existe, de facto, uma naturalização da violência e este cenário, no futuro, leva-nos a casos mais gravosos de violência doméstica que resultam em homicídios ou outras situações de violência”, acrescentou.
Das queixas apresentadas pelas vítimas de violências, “85% são arquivadas”. Os motivos, aponta a representante, prendem-se com o facto destas mulheres serem “apanhadas num novelo de julgamento das instituições, que as deviam acolher, e o processo burocrático é tão grande que, já fragilizadas, acabam por desistir”. “Portugal tem ainda um problema: não temos números oficiais das mulheres que morrem às mãos dos seus companheiros ou ex-companheiros. Os números que nos chegam, chegam-nos por parte das associações de mulheres”, afirmou Marta Calejo.
A representante da Rede 8 de Março em Braga considera ainda que este é um “problema estrutural” e aponta ainda críticas ao Estado português, que segundo Marta, “nos diz que “isto é um problema menor”. “Não há nenhum organismo que olhe para nós como vítimas”, acrescentou.
Há muito por onde agir. Marta Calejo defende “há um trabalho importante, que deve ser feito no campo da prevenção, junto das escolas e dos jovens”. “É preciso que juízes que legitimam situações de violação e maus-tratos tenham sanções mais severas”, sugeriu.
A representante chamou ainda a atenção para a criação de “estruturas de apoio a nível estatal para as mulheres, porque “as vítimas que levam até ao fim o processo de denúncias das suas situações de violência são elas que têm que deixar as casas e ir para casas de abrigo”.
O protesto contra a violência doméstica e no namoro reuniu, esta quinta-feira, algumas pessoas junto ao Tribunal. “Está na hora de toda a sociedade meter a colher entre ‘marido e mulher’ e agir para acabar com femicídio, a violência doméstica e de género”, ouviu-se no protesto.
A rede está a convocar uma greve feminista internacional, na Avenida Central, no Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, pelas 18h.
Áudio:
Marta Calejo, representante da Rede 8 de Março em Braga, a propósito da acção que decorreu esta quinta-feira
