Sapadores de Braga a 100% na greve nacional

O turno das 20h00 desta terça-feira concentrou-se no Quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga e aderiu, a 100%, à greve nacional que vai decorrer até 2 de Janeiro de 2019. A paralisação não afecta os serviços de socorro às populações, apenas os serviços de prevenção.
Sérgio Carvalho, presidente do Sindicato Nacional, acompanhou a mudança de turno no quartel dos sapadores de Braga. Aos jornalistas presentes, o sindicalista explicou o que está em causa, alertando para o caso particular da corporação bracarense.
É preciso recuar a 1994 para explicar o que acontece actualmente. O presidente do sindicato refere que o presidente da câmara de Braga de então, Mesquita Machado “cometeu um dos maiores erros na história dos bombeiros profissionais portugueses, mas que toda a gente deixou passar em claro. Acabou com os bombeiros sapadores, manteve o nome da companhia e só contratou bombeiros municipais, colocando na mesma casa a trabalhar pessoas a fazer a mesma função, mas em que umas ganhavam o dobro das outras”. “Uma injustiça que continua por corrigir”, denuncia Sérgio Carvalho.
17 anos depois, o Governo “não coloca os bombeiros municipais a ganhar o que ganha um bombeiro sapador. As forças de segurança recebem 789 euros quando ingressam, mais 20% de subsídio de risco e disponibilidade permanente. Já aos sapadores propõe pouco mais de 700 euros onde já estão os 20% de subsídio de risco. Sérgio Carvalho diz que “é andar 30 anos para trás”, salientando que nenhum sindicato pode aceitar uma proposta destas. São quase 3 mil sapadores que auferem os ordenados mais altos, e aproximadamente 400 a nível nacional que auferem os valores mais baixos, ainda que a formação, as funções e riscos sejam exactamente as mesmas entre estes profissionais.
“Quem arrisca a vida, passa o Natal, o fim de ano, dia e noite, durante trinta ou quarenta anos por turnos e que para ganhar 800 ou 900 euros tem que ter trinta e tal anos de carreira e sorte nas promoções, tem que ser mesmo muita vocação e gosto pela profissão”, disse ainda o dirigente sindical.
Corporação de Braga tem apenas um bombeiro sapador. Restantes são municipais
No caso da corporação de Braga dos Bombeiros Sapadores, com um efectivo de 85 profissionais, nesta altura há apenas um bombeiro sapador. Os restantes são todos municipais. “Em vinte e tal anos conseguiu-se destruir por completo uma companhia de bombeiros sapadores que demorou dezenas de anos a construir”, lamentou ainda o sindicalista.
O presidente do sindicato já realizou várias reuniões em Braga. “A Câmara está sensibilizada, se a legislação mudar, a autarquia muda os seus bombeiros municipais para sapadores”, afiançou.
Os bombeiros profissionais exigem um estatuto igual aos das forças de segurança.
A Associação Nacional acredita que as negociações vão decorrer a favor das reivindicações dos bombeiros sapadores e municipais.
Pedro Cunha, de 42 anos e integrado na corporação de Braga há dezoito anos, lamenta a proposta que está a ser apresentada pelo governo à mesa das negociações. “Fazemos as mesmas coisas que uma companhia de bombeiros sapadores e o nosso rendimento base é abaixo do salário mínimo. Só muda o nome. Arriscamos a vida igual”, começa por alertar este profissional. Pedro Cunha reconhece que a corporação de Braga “está indignada”, à semelhança de outros profissionais no país. “Hoje em dia ninguém ganha 500 euros. Uma pessoa está aqui e trabalha fins-de-semana, feriados, noites, turnos, é desgastante e ficamos desmotivados porque não há progressão na carreira”, desabafa.
Actualmente, a aposentação dos bombeiros profissionais está nos 50 anos, mas a proposta do governo aponta agora para os 60 anos. É “incompreensível”, diz Pedro Cunha que questiona como é que com 60 anos vai buscar uma vítima ao 10º andar.
Áudio:
Sérgio Carvalho, presidente do Sindicato, e Pedro Cunha, bombeiro municipal no quartel dos Sapadores de Braga
