Uma centena manifestou-se pela defesa da Confiança

Cerca de cem bracarenses juntaram-se ontem à noite à porta da antiga Fábrica Confiança. Jovens e idosos, cidadãos com e sem ligações partidárias, uniram-se para reiterar a importância da continuidade do imóvel na esfera pública. Pedem diálogo, debates, expressão de opiniões e discussão de ideias, algo que dizem não ter existido até agora com o presidente Ricardo Rio, o mesmo que, enquanto líder da oposição, protagonizou a compra e expropriação do edifício por parte da aurtarquia, à altura liderada por Mesquita Machado. 

No meio dos descontentes, muitos são aqueles que perguntam o que aconteceu, afinal, a Firmino Marques, actual vice-presidente da CMB e que durante muitos anos foi presidente da Junta de Freguesia de S. Victor. Nessa altura, enquanto autarca, em diversos debates disse defender a aquisição da Confiança por parte do município de Braga, assim como a preservação do seu património e a requalificação do imóvel para fins culturais. Hoje está manifestamente afastado desses defensores e do homem que o sucedeu no cargo, Ricardo Silva, autarca que no seio da coligação Juntos por Braga parece ter ficado praticamente sozinho na defesa da Confiança na esfera pública, na esperança que aquele edificio abra as portas para a cultura e se abra a todos os bracarenses.


O que defendem alguns cidadãos presentes na manifestação?

Joana Peixoto, psicóloga de 33 anos e sem qualquer simpatia partidária, refere estar “contra a venda da fábrica, um património da cidade que não deve ser destruído”. “Embora tentem passar uma ideia contrária, tudo aquilo que temos vindo a assistir nesta cidade é à destruição do património, mantêm-se as fachadas e tudo o resto é destruído”, considera. A jovem bracarense aponta para  a necessidade dos responsáveis “se sentarem e fazerem uma discussão séria sobre o assunto”, acrescentando que “há dinheiro para 1001 coisas na cidade, mas no que toca a restaurar ou preservar património, é aquilo que se vê”. “Para mim não faz nenhum sentido que se pretenda fazer uma candidatura a Capital Europeia da Cultural. Com base em quê? Que cultura é que nós temos em Braga se não é dada a oportunidade aos artistas de terem um espaço, de se darem a conhecer?”, questiona.

Entre os mais velhos há quem defenda para aquele edifício um lar de idosos. “S. Victor é tão grande e não tem nenhum lar para idosos”, apontava uma habitante. Outros sugerem que o espaço é amplo o suficiente para conciliar “um verdadeiro espaço cultural” com “uma residência para alunos da Universidade do Minho”, numa altura em que é reconhecida a falta de alojamento para os jovens.

Marco Teixeira, vizinho da Confiança e antigo elemento do projecto ‘Braga Tempo’ é outro dos cidadãos contra a alienação. Se não há dinheiro, o município podia fazer “uma pequena intervenção” disponibilizando o espaço “para actividades de cariz cultural”. Reconhecendo ainda a falta de alojamento para universitários, Marco Teixeira sugere uma parceria entre o município e a UMinho para responder, através da antiga fábrica, a essa necessidade.

ASPA e outras associações cívicas da cidade representadas na manifestação à porta da Confiança


ASPA, velha-a-branca, Krizo e Braga Mais foram algumas das associações representadas na acção que decorreu na noite desta quinta-feira. Teresa Barbosa aponta que “não há o direito de se tomarem decisões em relação a um edifício deste género sem que haja uma discussão pública.  A ASPA está representada no Conselho Estratégico de Regenaração Urbana, e está representada no Conselho Municipal da Cultura e nunca este assunto foi analisado. Há quem perceba do assunto e essas pessoas têm que ser ouvidas, não pode haver uma decisão unilateral, caída do céu de repente e aos trambolhões”, sublinha.

Partidos políticos aproveitaram manifestação para intervir

A questão é também uma oportunidade para os partidos da oposição se fazerem ouvir e aumentar o volume de críticas ao executivo liderado por Ricardo Rio na condução deste processo. PS, CDU e BE não desperdiçaram a oportunidade de criticar a coligação de direita, apelando ao público presente para que se faça ouvir na Assembleia Municipal de Braga desta quinta-feira à noite no pequeno auditório do FORUM Braga. 

Coligação não pode dizer que decisão é irreversível quando falta votar a alienação na AM – PS


Eduardo Gouveia, do Partido Socialista, salienta o reforço do movimento cívico em torno desta matéria. “É  de extrema importância esta manifestação assim como a petição petição pública. Vamos continuar a luta enquanto todos os recursos e todas as formas de diálogo forem concretizadas”.

Os socialistas acusam ainda a coligação de direita de “arrogância e falta de espírito de democracia” ao assumir que esta decisão é “irreversível”. “A Assembleia Municipal de Braga ainda não se pronunciou e o público tem direito a  intervir. Estamos convictos de que os bracarenses vão aderir para exprimir a sua opinião naquela que é a casa de todos”, disse.

“Na realidade as pessoas estão a pedir uma oportunidade que não devia ter de ser pedida” – CDU

“A participação é sempre importante”, começou por defender Carlos Almeida, referindo que a participação de uma centena de pessoas na manifestação de ontem não pode ser desvalorizada. “Recordo que relativamente à defesa do S. Geraldo tivémos uma iniciativa, num dia de feriado, com menos gente do que aqui está e toda a participação e participação cidadã ajudou naquele desfecho positivo. Neste caso acredito exactamente no mesmo”, sublinhou.

O vereador da CDU lamentou ainda que as forças da cidade estejam nestes últimos tempos “a pedir uma oportunidade, que nem devia ter que ser pedida porque estava garantida por um consenso político e social alargado, conquistado há seis anos”.

A participação nestas acções devia sensibilizar o governo da cidade – BE


Já o Bloco de Esquerda aponta que “a participação dos cidadãos deveria importar e dizer algo ao governo da cidade”. Alexandra Vieira sustenta que a acção à frente da Confiança “invoca a cidadania e pretende sensibilizar o presidente da CMB para mudar o rumo que traçou para um edifício tão importante para a cidade”.

Recorde-se que esta quinta-feira há Assembleia Municipal de Braga. As atenções, na reunião de amanhã, voltam-se precisamente para a votação da alienação do edifício. A oposição e muitos cidadãos esperam suspender esta possibilidade apresentada como única solução por parte de Ricardo Rio.

Áudio:

Cidadãos, representantes de associações, partidos à esquerda e presidente da Junta de S. Victor participaram na manifestação

Elsa Moura
Elsa Moura

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